quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Último Acto



Antes do último acto terminar
saio de cena,
com o coração trespassado
o olhar espantado.
E se alguma coisa quebrar
Vai ser a palavra... tenho pena!
Palavra que me reconfortava
e em mim fecundava.
Ela que se arremessou contra meu peito
Se levantou enlouquecida
E sem me ouvir...assim de qualquer jeito,
se quer fazer ouvida.

Cai o pano de improviso
Há gargalhadas p'lo ar
A balbúrdia é geral
O terceiro acto correu mal.
Levo o coração quebrado
Muito ficou por dizer,
que escapou entre o esquecimento,
como a frescura da água por beber
Lamento...lamento...lamento!

Neste palco fiquei destruída
Definitivamente quebrada
Que esperança ter
numa nova jornada?
Teatro é a Vida
Nele há esperança de verdade
Mas acaba mal o sonho
Resta a saudade.

Acabou a insólita peça
Houve palmas, apupos, e até gritos!
Agora não há quem meça
os ruídos (do meu coração)
aflitos.
Fui até directora de cena
Declamei de improviso
corajosamente no meio da multidão
Saíu mal, tenho pena!
Por isso saio sem aviso.
Sem esperança, fé, ou resolução.

Largo o traje a rigor
Com que vos saudava então!
Dos aplausos levo o calor
E para o olhar final, levo a peça na mão.
Nestas mãos cansadas, paridoras
de versos tantos!
De saudades, atiradas em prantos,
onde a palavra se faz ouvir
Até no dito que não pronunciei
Nas folhas de outono a cair
Na jovem que não existe,
na dor que calei.

Levo a interrogação na boca
que em mim não esquece
Por que será a vida tão pouca?
Que já o pano desce.
Saio de cena!

(Natália Nuno)

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